Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A minha leitura, do livro....


" Autista....Quem?... Eu". A maior divulgação, feita a este livro, fez com que o relesse, agora numa perspectiva mais analítica e comparativa, foquei-me mais na vertente do autismo, do que na primeira leitura que me envolvi no romance.
Continuo a achar o livro um romance muito bem escrito onde a autora a quem dou os meus sinceros parabéns, por de uma forma simples e apaixonada, nos levar ao mundo fascinante do autismo, numa mistura singular da realidade com a ficção.

Deixo aqui as minhas impressões e comparações ,numa analise sucinta tanto quanto me foi possível.

Afinidades do meu filho com o personagem "Xico" "Quico"- Estereotipias, bom ouvido musical, em relação aos perigos é o oposto, vê perigo em tudo, não percebe os risos ou choros, mas entra na risada, o choro manifesta na dor física, raramente emocional. A relação social com o exterior é um pouco vazia, apesar de gostar de sair a rua e até estar no meio da multidão não se sabe relacionar. E se por acaso alguém o cumprimentar, umas vezes nem responde, tenho de o alertar, ou então responde com a frase que bem da outra pessoa , muitas vezes sem sequer virar a cara para o lado. Alterações de percursos ou rotinas tem de ser explicados antes , para não provocarem ansiedade. Se por algum motivo não avisamos a mudança de percurso fica aflito e diz:- Ah, não vamos por ali, (o do costume).
A relação do meu com o encarnado é muito boa, já com o azul não posso dizer o mesmo.
A memória é também uma característica muito vincada- Obsessões-Ausência de malícia.
O meu filho não trocaria o telemóvel por uma caixa de formigas, mas trocaria ou daria tudo por nada(esta ultima em relação ao personagem André,que tem SA).

As minhas afinidades com a personagem "Gui", o amor e atenção são ingredientes principais. Ainda não consegui em todas as situações repetitivas usar o interruptor que desliga. Medo e insegurança de que ,de algum modo pudesse ser abusado ,abordagem á sexualidade mesmo sendo um assunto natural, é complicado de explicar.
Ainda a explicação muito sensata sobre os génios autistas, concordo com a perspectiva apresentada no livro, é também a minha, que não querendo retirar os sonhos a ninguém eu também acreditei nela e era apaziguador, sentir que o meu filho iria ter um futuro promissor, podia ser um génio, (como nos exemplos por todos nós conhecidos).
Mas, não, não é génio. É apenas genial...

Entre outras ,estas foram as frases do livro que mais me "tocaram"
-"Um autista é tão puro que quem com ele convive, forçosamente se transforma numa pessoa melhor".
-"Somos apenas pais diferentes que crescem na medida das necessidades dos nossos filhos".
-"Distinguir uma criança mal criada de um autista".
-"Passei um tractor por cima de tudo o que foi mau"
-"Incapacidade inata para formar contacto afectivo normal biologicamente programado, com as pessoas"

Atrevo-me a dizer todos diferentes, mas iguais, nalgumas particularidades...
Nota- Espero que a autora não fique melindrada, com esta minha analise e atrevimento,de até fazer termos comparativos com a minha própria experiência.

Aproveito para informar que a 2º. edição estará, á venda a partir de 15 de Abril, recomendo a sua leitura

3 comentários:

Mina disse...

Ao referir que este livro não é uma biografia. Não é de modo algum uma desreferência para o mesmo, que alías adoro ler romances e ao longo da vida, já li centenas, confesso que alguns são útopicos, o que não é o caso deste, que teêm esta mistura muito bem elaborada, de uma realidade autista. E uma envolvência romântica também bem conseguida, gostei muito, muito ou não o teria lido duas vezes. Porque há alguns livros que tenho á espera há anos, e que de vez enquando lá vou, e não consigo ultrapassar as primeiras páginas.
Só que no caso do autismo a biografia que li, serviu-me também como base de conhecimento, que eu não tinha na época já lá vão para aí uns 14 anos da primeira leitura, foi uma especíe de companhia, o sentir que havia alguém que passava o mesmo que eu foi um apoio, porque não altura ainda não havia SA como diagnostico, eu andei a deriva, muitos anos, com o sentimento de que o meu filho tinha comportamentos de PEA, e todos me afastam de lá, esta mãe da biografia, foi a minha guia e a minha certeza, que afinal o meu coração estava-me a levar para o encontro do meu filho.
Sentia-mo-nos os dois perdidos, porque em todo o lado ele era caso único, precisavamos de referências, que só encontrei mesmo naquela leitura. E suspirei... Afinal, há alguém no mundo com comportamentos e caracteristicas semelhantes ao meu filho, e comecei a percebe-lo melhor, aprendi muito com aquela mãe, e com o filho que na altura tinha 19 anos, o meu tinha 10 anos na altura, foi a minha fonte de esperança e luz...
Obrigada a todas as mães e pais que de alguma forma ajudam, a abrir caminho, neste mundo ainda fechado do autismo... Em especial aos que tem capacidade de o fazer através das palavras e dos actos...
Um obrigado para estas duas escritoras( Ana Martins com o livro " Autista....Quem?... Eu". e (Jane McDonnell com o livro "Memórias de uma mãe sobre o seu filho Autista", que cada uma em sua época, contribuiram para abrir uma janela do autismo, cada uma com as suas palavras e generosidade.

Ana Martins disse...

Querida Mina,

Gostei muito da análise que de forma alguma posso considerar atrevimento ao comparar com sua própria experiência.
O "Autista, quem...? Eu?" é um romance de ficção que pretendeu retratar na Gui todas nós (mães como eu, a Mina, todas *as Guis* que conhecemos ou nem sequer sabemos, mas adivinhamos as suas vida). A Gui representa a esperança num futuro melhor que todas nós mães tanto queremos acreditar. Como a personagem Xico é apenas uma criança ficcionada com tantos detalhes de meninos com autismo que pela minha vida em algum momento passaram, cujas famílias conheço e foi uma forma de *prestar homenagem* a falas, posturas, olhares, dizeres de todos eles. O Xico é uma personagem retalhada de muitos momentos verídicos e autorizados pelas famílias, mas esses, são apenas os pormenores que ajudaram a colorir a personagem que, mais uma vez digo, é ficcional - não representa de forma nenhuma o meu próprio filho. Há episódios que aconteceram com o meu filho, é claro!, a minha maior fonte de inspiração, hoje um jovem adulto de quase 20 anos, mas não é *um Xico*.

Quando era uma jovem mãe também li (sofregamente) o romance autobiográfico de Jane McDonnell "Memórias de uma mãe sobre o seu filho Autista", e recordo que numa primeira leitura, recusei-me a ler mais que a idade que o meu próprio filho tinha. Como não querer ler as cenas dos próximos capítulos da minha vida. Naquela altura era a minha forma de lutar. Hoje quero saber do dia de amanhã para além do de hoje. Apenas porque o desejo melhor.

Obrigada, querida leitora por ter recebido e entendido tão bem a mensagem deste romance - meu e de todos vós.
Um abraço,
Ana Martins

(vou colocar igual no seu e meu blog)

14 Abril, 2009 03:48

Mina disse...

Caríssima Ana Martins
Ainda bem que gostou desta análise feita com o coração, que a minha razão às vezes perde-se xd. Tive receio em colocar porque nem sempre sabemos como vai ser a recepção, apesar de ser apenas assumidamente a minha leitura, na visão autista que retirei do livro, embora houvesse outras que aqui não referi, senão seria um resumo. Mas também adorei o romance que eu, mesmo sendo leiga no assunto, acho mais difícil de compor do que uma biografia. Foi também por isso que aqui coloquei aquele comentário não aceite por um administrador, foi assim como que uma espécie de pedido de permissão para poder colocar esta minha leitura no blogue do meu filho, embora eu achasse que não magoava nem ofendia ninguém, desde aquela recusa fiquei na dúvida, que a escrita tem destas coisas, das interpretações que cada um faz. Mas como toda a vida me regi pela frontalidade e pela coerência, arrisquei. Eu é que agradeço a menção no seu blogue. E o falar abertamente sobre um assunto que durante anos foi tabu e que fazia com que as mães tivessem sentimentos de culpa, coisa que eu sempre abominei e contrariei a versão de Kanner. O meu filho nunca seria autista por falta de amor e afecto, aí até agi ao contrário, de tanto querer até o abafei. E contrariamente à Ana, permita-me que a trate assim, comecei a ler a biografia pelo fim, pelo relato do jovem Paul. Eu queria muito ter uma luz, uma noção do futuro, e na altura esta versão real tranquilizou-me, por isso eu lhe dou tanta importância. E o meu filho tinha muitas características, e ainda tem, do jovem Paul. Até a apetência para a meteorologia. Como havia pouca literatura, Internet por cá não era usual, não tinha conhecimento de rapazes como o meu, era caso único. Só vim a conhecer outros jovens depois de fundarem a APSA, em reuniões de pais a que assisti. Na altura da minha maior incerteza não sabia a quem me dirigir, ainda pensei na A.P.P.D.A, só que nunca tive coragem, ou talvez tivesse tido medo ,até porque todos me diziam que ele não tinha PEA. Ao Dr. Nuno bastou olhar para ele e num cumprimento disse logo: “Este rapaz tem SA, pode também ser autista de alto funcionamento” - isto aos 18 anos. Quando eu já tinha essas certezas aos 10 anos, é o mesmo diagnóstico do Paul.
Obrigada Ana,pela minha parte da "Gui" beijos para si e para o Pedro