Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"Intimidades"



-Mãe, quero namorar contigo!
Enquanto, cogita com os seus pensamentos em voz alta, dentro quarto, sem saber que estou por perto, e que ouvi.
-Namorar, comigo!?
"Aflito", com essa impossibilidade.
- (Abraça-se a mim)
-Não posso, tu és minha mãe, gosto muito de ti,quero miminhos.
Permanecemos naquele abraço.
Enquanto refere , a mana também precisa de miminhos para curar a depressão ;)


Nota- Este complexo de  Édipo, quando se é criança , é muito normal e comum.
Os adultos, não o revelam,  desta forma, este amor incondicional <3>
Afinal, quem são os autistas!?

domingo, 25 de janeiro de 2015

"Estranhos"


Incompreensível, depois queixa-se que não têm, com quem falar...
Neste "mundo estranho " do autismo, tudo pode acontecer, daí os mistérios  insondáveis, tanto pode num repente ir cumprimentar alguém, e fazer uma grande "festa", como pode ignorar quem lhe vai falar, mesmo conhecendo as pessoas.

Isto têm uma explicação lógica, para quem vive nos meandros do autismo, a primeira situação de se dirigir às pessoas, é porque sabe, e está preparado à maneira dele, para a conversação, mesmo que seja uma "conversa sem pés nem cabeça".
Quando se dirigem a ele a situação complica-se, o factor surpresa, deixa-o  sem reacção, ou fuga ao interlocutor, por não saber  o que lhe possam perguntar!
Vá, lá! a gente entender estes mistérios, saber falar, nem sempre  facilita a comunicação, como se possa pensar!....

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Murmúrios


Ouço, no quarto ao lado, murmúrios em alta voz!
-Tenho medo de ficar cego.
Vou, ver, o que se passa, se magoou se, com alguma coisa.
Estava apenas a falar, com os pensamentos, em voz alta.(enquanto escrevia sobre climas)
-Porque haverias de ficar de cego!?
-Podem dar-me um murro no olho , como me deram no nariz.
- A que propósito!?
-Só consigo ter pensamentos negativos. Tenho medo. (responde).
É habitual, dialogar com ele próprio.
-Porque não tenho ninguém com quem falar.(refere tom entristecido)
 A triste realidade, de quem não têm amigos.(quando existem são jóias preciosas)
Porque dificilmente consegue manter uma conversa, e as pessoas ainda não sabem lidar com método "saca-rolhas", ou estarem a ouvir falar constantemente no mesmo tema.
Enquanto a irmã , fala e fala , horas infindáveis no pc, o que lhe causa imensa confusão, como é que ela fala tanto, mas também, é só por detrás do monitor em jogos inter-activos.

Mãe Mina

Eu não me posso esquecer, que se imitar  o que a minha irmã diz, eu sofro as consequências, que são a minha irmã matar-me com uma faca.
Não posso provocar.
Não posso imitar, a última vez foi no dia 22/07/2014 às 22 horas, 22 minutos e 22 segundos.
Agora, é só ignora-la
A minha irmã está no limite e a qualquer altura pode passar-se e matar-me com uma faca.
Ela anda a ameaçar espetar facas e matar-me.
Eu tenho que pensar nestas consequências, que posso sofrer e por isso sofro com medo.
Tenho que ter muito cuidado.
Ela pode passar-se  saltar-lhe a mola a qualquer momento.
A ver se leio isto e penso bem todos os dias.
Cada vez que me lembrar de ir para o corredor imita-la, rezo avé Marias.

Texto integral do Bruno V.

Nota-Embora as situações , não correspondam ao mesmo espaço temporal, relacionam-se com os medos que estão sempre latentes, não sei quando escreveu o texto anterior, mas terá sido próximo da data que menciona ao pormenor :)
Acho, que se esquece muitas vezes de ler, o que escreveu, e continua a imitar a irmã, é mais forte que vontade.



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"Chocante"



Ultimamente, tenho escrito e falado mais sobre a morte.Tema ainda envolvido nalgum misticismo.
E como será sentida e vista, por alguém no espectro do autismo (parece pouco importante e desprovida de sentimento).
Será assim, tão vazia!?
Ou somos nós, os neuro-típicos egoístas , que queremos manter, a qualquer custo os que nos são queridos!?
Não costumo leva lo a estas cerimónias fúnebres, até porque me emociono , e as lágrimas fazem parte.
Tratando-se de uma amiga dele, e consequentemente minha, das tais jóias preciosas, que tivemos o privilégio de privar, um grande exemplo de pessoa lutadora, que venceu muitas batalhas e sempre com sonhos para realizar.
Eu sei que ela , não julgaria, percebia as atitudes deste amigo e tinha muito orgulho nele. Mas ela já não via! E os outros!?
Faço um ensaio, antes de entrar na capela, como deve formalizar os pêsames aos familiares (ele acha, que fazer uma vénia de mãos erguidas).
-Não, filho é só cumprimentares e dizeres os meus pêsames.
Acho que essa parte (formal) passou à frente,
Deu a volta à urna deteve-se a olhar para a defunta, e sorriu ao despedir-se dela.
Faço uma analogia também ingénua da minha parte, que a amiga está em paz, como se tivesse a dormir.
Surge-lhe logo uma pergunta científica.
-Quem é que declara a morte!? Como é que se sabe, se está morta!?
-Como, é que ela saiu da cadeira de rodas, para o caixão? (perguntas que revelam o seu grau de ingenuidade, que quem não conhece, poderia pensar que está a gozar).
Depois das nossas explicações,  passa à fase observatório do restante ambiente.
Atento a pormenores do que está escrito, junto ao livro de condolências.
Quem chora mais! Porquê , que chora, mais!? Naturalmente o companheiro(ele observa insistentemente) e  a mãe dela e familiares próximos  e olha para mim, também estás a chorar, quando vê as lágrimas a escorrer por debaixo dos óculos.
Olha em volta, para ver se vê pessoas conhecidas... e lá as vai cumprimentar. Dá por falta dos que não foram.
Vai , ao supermercado, mostra o cartão que regista a ocorrência do funeral, a um dos monitores, que nem conhecia a amiga. Porquê , que não fostes ao funeral!? Se fostes ao funeral da outra !? (mãe de uma vizinha, que senhor conhecia).
Questões que no meio da dor, ninguém poria.
Coloco-lhe a questão. -Não, estás triste, não vamos voltar a ver, a tua amiga?
Resposta:Um bocadinho, e reparo nos olhos humedecidos.
Se sentem, é óbvio que sim, a forma de expressar, é ,que é diferente.

Querida Rosa, posso dizer-te que vamos ter imensas saudades tuas, perdemos o teu olhar, mas ficámos com teu  eterno carinho,
E cada um à sua maneira irá recordar-te na alegria e na coragem que nos transmitiste.
Até sempre

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Apesar "De"


Não vale a pena relativizar, quem lida com pessoas com esta síndrome, sabe que são todos diferentes neste largo  espectro.
E, que à particularidades, muito singulares nestes indivíduos.
Que algumas vezes, se evidenciam, mais do que outras.
Raramente, pelo menos neste caso único, o fazem por maldade, ou com sentido de ofender.
Dizer umas asneiras, mesmo que seja  na língua inglesa, pode ser só para mostrar que sabe ;)
Pois é. Fora de contexto, também sei, que é frequente.
Assim, como é frequente, perante evidências de comportamentos, menos padronizados, o rótulo salta, e se calhar é melhor desinvestir nestas pessoas ( não vale a pena).
Pode, até nem ir à formação (ficar em casa).
O mais  provável é não obter o certificado da formação.
Formação em Inglês comercial para quê!? Se serve para os outros também serve , para ele.
Ao segundo dia, já não sabem muito bem como lidar, com uma pessoa, desta natureza,
Que regra geral, bem, o mal alerto logo, para esta condição particular.
Feliz da vida, a  formadora , mostrou-se conhecedora desta síndrome rsss
Não cheguei a perceber, então porquê, da intriga, de dizer uma asneira fora de contexto, não é mal educado, nem sequer engraçadinho , são aquelas chalaças sem graça.
Apesar  "De", acabar, por concluir a formação, sem faltas, mesmo com estas sérias dificuldades de comunicação, eu não precisei de lá estar para saber que houve  pessoas que adquiriram menos conhecimentos do que ele.
Ele gostou, e no final, até foi só aquele pequeno pormenor, de resto naturalmente correu dentro dos parâmetros de compreensão desta síndrome, que neste caso têm de ser explicita e directa.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Novo Ano


Nada de novo!
Ainda estamos a começar o ano !
Costuma ser uma altura de fazer, balanços, retrospectivas, projectos!
Não me  parece que haja nada de novo, a não ser, um maior silêncio.
Que até a mim própria, incomoda, não, que não tenha muito para dizer, mas talvez nada para a acrescentar, ( contra censos).
Vou tentar arrumar a casa (este espaço), que só faz sentido quando é vivido e sentido!
Aqui, se transformam as alegrias as tristezas, as vitórias as derrotas, os desejos, tudo aquilo que sente.
Se  à quem  possa sentir, que o facto de o Autismo estar presente, é o mal maior.
Direi, que é, o Amor maior... Aquele que dá nome a este blogue!

Deseja-mos a todos os que nos visitam, um Novo Ano 2015, recheado de afectos, são eles que alimentam a nossa alma.
A todos sem excepção quer  aqueles que passam em  silêncio, quer aos nossos fiéis amigos, que têm sempre uma palavra amiga, e respeitam estas pausas,

Um grande bem haja a todos
Beijinhos

Mina e Bruno

Imagem pessoal: De mãos dadas com o autismo, por mais um ano, neste caso, são as minhas e do nosso amigo Pedro ...