Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sonhar faz sentido!...(4)

“Os portadores de Síndrome de Asperger são muito inflexíveis de pensamento, é branco, é branco, não há cinzento”, esclarece a presidente da APSA. Rossana exemplifica: “água é água. A água bebe-se. Ponto final”. Simples. “Ele até compreende metáforas, mas é literal”. Rossana dá outro exemplo: “porque é que a galinha atravessou a estrada? Porque queria chegar ao outro lado…não acho piada às piadas dele” diz sem conseguir evitar uma gargalhada - “são secas!!”.
E remata com uma frase que resume tudo – “ “o meu irmão é especial, especialmente chato….mas especial!”. Reparo que ao lado da nossa mesa, há um pequeno aviso – não colocar livros no chão. Um asperger dificilmente desobedeceria.
O tempo está acabrunhado. Condiz com a Moonlight Sonata de Beethoven, embora estejamos a meio da tarde. Mas, no pequeno café não há noção do tempo a passar. O vidro tilinta. A Alemanha vence a Inglaterra. Os tímidos raios de sol caem sobre a mesa.

Bruno também tinha dificuldades a Português – “português é para esquecer”, admite a mãe. “Matemática era o forte dele desde a 1ºclasse, foi sempre excelente. Era bom a gramática, que tinha conteúdos que ele podia decorar”.
Não são só as palavras que assustam. As pessoas, para um Asperger, são estranhas e desconcertantes. Como um quadro de kandinsky, onde as linhas rodopiam e se cruzam incessantemente.

É difícil entender como é que as pessoas conseguem ter relações emocionais tão complicadas. Entender como utilizam e interpretam tantas convenções sociais. Mina resume isto em poucas palavras – “o Bruno era uma criança estranha no meio do oceano”.
A integração é um ponto sensível nas pessoas com Asperger – “a turma dele aceitou muito bem” diz Rossana. Mas desabafa – “ele às vezes tem brincadeiras que os outros não acham graça.”

Mina corrobora: “o Bruno, às vezes, é provocatório, mas não tem a intenção de provocar, é querer chamar a atenção”. “A relação com os colegas era praticamente nenhuma”, acrescenta.
O bullying é outro problema – “eles fazem aquilo que lhes mandam fazer, são ingénuos.”. Quando abordo o tema o semblante de Rossana fecha-se por momentos – “ele magoa-se facilmente, pequenas coisas que as pessoa dizem…É difícil ultrapassar”. “Sou muito protectora dos meus irmãos”, confidencia.
Para Piedade Monteiro “é preciso saber chegar-se a eles, saber quais são os seus interesses, e utiliza-los para os cativar”. E acrescenta: “ tem de haver uma abertura para chegar aos aspies [termos carinhoso por que são designados os portadores de Asperger]. Por vezes é complicado”.

Dando continuiedade ao trabalho da Sara...

2 comentários:

Fê blue bird disse...

Prima, se todo o mundo abrisse a mente e o coração e aceitasse as diferenças como algo "normal" tudo se resolveria.
Basta tão pouco, pedem tão pouco e porque será que é tão difícil de alcançar qualquer meta para quem algumas "limitações".

Nunca compreenderei este "sistema" de normalidade balofa mas só para alguns como bem sabemos.

Sonhar faz sempre sentido!
beijinhos

Mina disse...

Prima Fê
Este trabalho, já têm quatro anos, o planeta têm milhares.
E lamento, mas a tendência têm sido piorar, num jogo de faz de conta, que somos um país evoluído e inclusivo...
Em finais de 2014, nada de novo, a fazer sentido...
beijinhos