Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

sábado, 21 de julho de 2018

Caminho Santiago (Etapas 1)

Diário da nossa caminhada.
Nota introdutória : Quando se vai fazer  uma caminhada, desta dimensão com uma pessoa com perturbações do espectro do autismo, não se pode só partir com as mochilas às costas, nem apenas planear as etapas.
Toda a logística de dormidas , foi agendada e reservada na semana anterior, tentando escolher a melhor qualidade preço, a privacidade é o mais importante.
Dentro do possível, fiz as melhores escolhas, mesmo os albergues,  escolhi os que tinham menos capacidade de pessoas, e cortinas separadoras.
Nunca poderia correr o risco da incerteza, de não ter dormida aqui ou ali.
Antes de partir-mos viu na Internet todos os locais onde íamos pernoitar.

Mochilas preparadas, sempre na dúvida das condições climatéricas que poderiam ocorrer durante o percurso, fomos prevenidos, para tudo, foi a mãe que preparou tudo,ele apenas transportou a mochila dele.
O tempo esteve sempre estável, os agasalhos, e impermeáveis, foram sempre dentro da mochila, foi uma semana de calor.
O facto de as dormidas estarem asseguradas evitou que tivéssemos de transportar sacos de cama e as toalhas, ainda assim levamos umas toalhas finas.

1ª. Etapa- Caldas da Rainha-Valença- Dia 13 Maio, embarcamos no expresso das 14:10, com os bilhetes comprados  na véspera, a  hora de chegada a Valença prevista para as 21:30, longas horas de viagem, mudança de viatura em Coimbra , quase não dava para ir-mos ao WC, que os utentes, têm de levar moedas para usar os WC das estações, não chega pagar mos a viagem.
Corremos desalmadamente, e entramos no WC de um café na própria estação  ( contra as regras de clientes) , a aflição assim o obrigou.
Chegados a Valença, procuramos o Albergue onde os nossos amigos ficaram hospedados, perto do castelo.
O alojamento onde nós ficamos distava 1,8 km do local anterior, uma casa de turismo de habitação numa zona calma, com boas condições quarto espaçoso uma cama de casal e uma singular, wc privado, com pequeno almoço incluído, o facto de estranhar a cama e de não me ter apercebido que tinha portadas a claridade chegou cedo, ele não dormiu que já estava a antecipar a noite seguinte.

2ª. Etapa- Valença a Porrino- Dia 14 Maio, no conforto de uma sala de estar senhorial, foi nos servido o pequeno almoço, se durante a noite o stress lhe provocou diarreia, ao pequeno almoço foram as náuseas, pouco conseguiu comer, tínhamos encontro marcado às 9 horas, e ponderamos regressar sem ter iniciado o caminho por causa deste estado físico do Bruno, mas ele mostrou vontade de fazer aquela etapa, muito tranquila uma visita ao castelo, a passagem para Espanha em Tui, fizemos as primeiras compras para esse dia de caminho, o que se viria a repetir em todos os outros locais de partida , sumos, água, fruta, e sandes feitas na altura, que levava numa outra mochila à frente para compensar.
Não sei a que horas chegamos a Porrino, fomos procurar o  albergue  que tinha marcado, não foi difícil de encontrar , enquanto os outros companheiros também se foram alojar.
Depois das habituais circunstâncias  de pagamento, indicaram-nos o nosso beliche.
Depositei as mochilas ao lado.
E se durante as reservas nunca referi a condição de ter uma perturbação autista, neste primeiro albergue, para que pudesse tomar um banho mais tranquilo, pedi para que o fizesse na casa de banho adaptada,  assim foi lhe facultada, mesmo que não  o referi-se, o comportamento dele denunciou a sua condição.
Curiosamente a jovem recepcionista , tinha uma amiga cujo filho também está neste espectro, e começou a ficar preocupada, com o entra e sai  dele do albergue, não fosse ele perder-se, pois queria dormir na rua, (tive que usar a técnica da chantagem, que não podia dormir na rua, porque não é permitido e podia ser  preso) os beliches é algo que o incomoda embora nos tempos de colónias de férias o tivesse feito, sem este espectáculo , ele dormiria em baixo, porque têm medo de cair ( numa dessas colónias um colega caiu do piso cima), e a mãe dormiria em cima.
Tendo este albergue umas camaratas, privadas a jovem arranjou nos dormida nesse espaço com portas, onde só dormimos os dois na parte de baixo dos beliches, e sem mais ninguém no espaço.
Ainda assim, mesmo com estas condições especiais, dormiu pouco.
Com a linha de comboio a passar perto, neste dia já estava com vontade de desistir, até porque na próxima dormida vamos ter de pernoitar em  mais um albergue...
Assim , como assim lá avançamos para mais uma etapa, a adaptação à mochila  já foi mais fácil...




Continua...

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