Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Preocupações acrescidas

Não é visível, para um Síndrome de Asperger, compreender a linguagem corporal, os olhares, o tom de voz, o "ar" alegre ou carrancudo...
Também não percebem quando estamos "enfadados" e insistem no mesmo assunto, vezes sem conta...
Torna-se aos olhos dos outros isto por si só, numa provocação, como é que alguém pode não perceber que o outro está irritado, e repetir em frente ao próprio na maior descontracção, sem noção real das consequências das suas palavras...

Se isto para os ditos "normais", implica uma dose de conhecimento e paciência.
Para alguém com deficiência mental, isto supostamente é um atentado. E há que trava-lo com violência física. Até porque para estes adultos secalhar o que funciona mesmo é a linguagem do corpo, só as palavras soam já a uma ameaça e confronto...

Isto tudo, para chegar ao episódio de hoje, que me deixou preocupada acima da média, não que não esperasse já este tipo de situação, mas queria levar esta minha ideia para outro lado, que não passasse de um devaneio...

Hoje à hora de almoço, enquanto esperavam pela carrinha o Bruno, depois de ontem ter visto o M. e o J.P. a degladiarem-se, hoje lembrou-se de dizer ao M. para "atacar" o J.P.
Ora não falando ele em segredo, o J.P. ouviu e não foi de meias medidas, foi de encontro ao Bruno e apertou-lhe os "garganetes", já estando o Bruno quase sem respirar e aflito, sem se saber defender, ali se ficaria, "qui ça" podendo mesmo o outro esgana-lo, senão fosse o M. em sua defesa. Criando-se depois um luta "acesa" entre os outros dois.

O J.P. é um jovem com problemas mentais, que me parece "descarrilar", algumas vezes, não consegue controlar a sua fúria.
Já, havia antecedentes com ele, e se o Bruno já é cheio de medos, agora ficou com mais.
Pior ainda é que a única forma que encontro para o demover destas provocações ao J.P é causar-lhe ainda mais medo, o que torna a situação terrível, mas que não é infundada, porque já repetidas vezes lhe tinha dito para ignorar completamente o jovem problemático e afastar-se dele.
Hoje ficou bem assustado, julgo que vai cumprir o nosso pacto de ignorância...

5 comentários:

Mina disse...

Desculpem lá a mudança de tom no discurso.
Mas pode ser que tenha efeitos terapeuticos.
Que esta é também a dura realidade, que não podemos nem devemos ocultar.
E com os amigos partilha-se o bom e o mau...

Esta demonstração, não é incriminatória do J.P., que é um jovem que precisa de apoio, ainda á pouco estive a referir ao Bruno precisamente isso, embora insista com ele para não lhe dar confiança.
Mas que a culpa também foi dele, que não pode nem deve provocar os outros...
Ou corre o risco de sofrer as consequências, que mesmo sem atitudes provocatórias pode acontecer, mas é muito menos provável.

Amanhã não vai mesmo, para que se possa tranquilizar, e tentar regressar depois com menos medo.

Atena disse...

Olá Querida Mina, ainda há pouco tempo, num comentário que fiz a um post seu, eu disse que haveria muito mais nas nossas vidas que nem sempre aqui seria contado, porque sei que os nossos dias, são muito preenchidos de variadíssimas coisas, e claro nem tudo são rosas! Este epísódio é uma dessas coisas a que me referia, ou seja, passamos, quase que diáriamente por dificuldades inerentes à "condição" que os nossos filhos apresentam (cada um à sua maneira). Concordo totalmente que se deve partihar o bom e mau, para que haja a noção o mais real possivel do que são afinal esta problematicas e de como vamos convivendo com elas ao longo dos tempos. Percebo que as coisas vão mudando, os problemas vão sendo outros, e o que tem que permanecer é a nossa força e coragem para ir conseguindo ultrapassar tantos obstáculos. Um forte abraço Mina desta mãe que insiste em ver as coisas sempre com olhos positivos, porque percebe que o caminho ainda é muito longo...

Mina disse...

Cristina
Logicamente que mesmo, sendo nós pessoas positivas, não conseguimos prever ou evitar alguns contratempos, que ora fazem parte do crescimento e da nossa sociedade, estando ele num espaço público onde existem pessoas cada qual com o seu problema diferente, à sempre riscos que se correm.
A tendência "provocatória" inata nele, não sendo sempre intencional, algumas vezes é, isto é complicado de gerir por quem sabe e conhece, impossível por alguém com perturbação mental.
Depois é facíl perceber que ele(Bruno) têm medo e alguma, para não dizer grande dificuldade em reagir de imediato, até porque lhe ensinamos que bater é mau, e ele isso não gosta nem de bater nem de receber pancada.
Mas vá se lá saber porquê gosta de ver cenas de pancadaria. Efeitos das imagens que vê na net e na Tv!?...Cenas violentas.
É também habitual eles serem usados(bullying), para provocações ou mesmo actos pelos que lhes denotam as fraquezas, é preciso estar sempre muito atentos.
E não é a "tapar o sol com a peneira", que resolvemos as situações ou as evitamos.
Mas falando nelas, pode ajudar nalguma prevenção e é isso que eu pretendo transmitir, não são julgamentos mas opiniões...
Bjocas

Visite www.arteautismo.com disse...

Oi Mina
Que coisa triste isso......
Bruno ao falar não teve maldade, tanto é que falou alto. Acredito que não gostou do modo injusto que o amigo foi tratado pelo J.P
E agora sente receio do amigo violento. Mas com razão foi esganado.
E os monitores onde estão nesta hora?
Bruno sei que é medonho tudo isso,mas não deves ter medo. O J. P. Já deve estar mais calmo é deve até ter esquecido.
Mas não fale mais nada nessas ocasiões para evitar essas coisas.
Se ele atacar voce de novo, isso deve ser levado a direção. Pessoas violentas devem ser contidas. Se for o caso , colocar ele em outra turma.
O que tem de ser feito é para sua proteção.
Espero que resolvam logo isso.....
Mina querida obrigada pelo comentário. amei demais que falaste.....
Beijos pra ti e Bruno.
Ray

Mina disse...

Querida Ray
Não sei se a provocação, foi tão inocente assim, só que do dizer ao fazer vai uma grande distância.
Aparentemente, já está sanado o outro jovem têm outro tipo de problemas e até eu já falei com ele, mostrou-se arrependido quase se "enroscava" a minha frente, também o compreendo e sei qeu ele têm graves problemas evidentemente que não será o meu que é mais frágil a levar pela "medida grossa".
E o Bruno ficou já mais confiante, quando me viu a falar com o outro e ele estava junto.
Mas não podemos baixar a guarda, o ocorrido foi á hora de almoço, quando não há monitores por perto, até porque o que se pretende com este grupo é autonomiza-lo,sejam mais independentes, espero que a situação não se repita.
Mas os responsávies , garantiram-me uma maior vigilância aos dois, que alías o Bruno gosta do grupo e acho que os outros também nutrem simpatia por ele, tanto que o que o defendeu o M., já disse ao pai para não se preocupar, que ele vai sempre defende-lo.
Mas nós sabemos que dada a sua natureza eles serão sempre fragéis, vamos estando atentos...
bjocas