Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Lembranças (1)


Estamos no Verão nada como uma boa praia, um bom rio, com a vegetação a pestanejar...
O importante é retemperar e relaxar, com livros e com amigos para conversar...

E a propósito de amigos , praia, conversar ...
Relembrei umas férias passadas na bela baía de Sesimbra, na companhia de amigos.
Já passaram muitos anos tinha o Bruno na altura 9 anos e a filha dos nossos amigos, 12 anos, a minha princesa ainda só tinha 8 meses.
Ao final da tarde, como convém para quem têm bebés, passeávamos á beira mar, num clima ameno sem o calor a atormentar, esta é a melhor hora para admirar sem cansar...
No final desse dia tivemos a visita de um companheiro, inconveniente, um peixe aranha, que mordeu a nossa amiguinha Claúdia, que muito aflita se contorcia com dores e chorava.
O Bruno um pouco intrigado, com a aflição da amiguita, perguntou o que se passava.
Ocorreu-nos numa linguagem prática para ele entender, dizer-mos que foi um bicho que a mordeu...
Na altura estava na moda aquela música do Iran Costa "É o Bicho".
O Bruno na sua doce ingenuidade, começa a cantar e a fazer a coreografia, "É o bicho é o bicho, vou-te devorar crocodilo eu sou", foi de tal forma genuíno e inapropriado, que até a amiguinha no meio do seu pranto, teve de lançar um sorriso doloroso...
Não conseguiu resistir aquele encanto, rssss
E nós espantados com a associação, não podemos deixar de soltar umas gargalhadas.
A intenção dele não era essa, mas aliviou um pouco a tensão, ao conseguir surpreender.
Como sempre o seu sentido sério não lhe permite perceber, porquê que nos rimos, este episódio visto agora já mostra nitidamente a sua síndrome...

A música é esta

4 comentários:

Grilinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Grilinha disse...

O que eu adoro essa praia.
Olha amiga, eles são como são. E é assim que os adoramos.

O sindrome de asperger cada vez mais me intriga e deixa curiosa. É incrível a quantidade de variáveis e de características tão diferentes, de criança para criança.
Eu conheço mesmo são autistas.

É amá-lo,como só tu mãe sabes amar...e todo ele desabrochará, seja lá isso o que for. Mas principalmente que seja feliz. Recordar ? É bom...aprendemos sempre, mas viver o presente, é melhor ainda. E que juntem à vossa colecção, muitas histórias, bonitas, vossas, caracteristicas...mas que vos façam sentir bem e não mal. Estiveste aqui tão perto da grilinha e não dizes nada ???

Uma beijoca

Mina disse...

Loool ,
Grilinha , este episódio já foi á bué, com precisão de Asperger há 15anos, ainda o Iran Costa, fazia furor rsss
Ainda agora a visualizar a cena dá-me vontade de rir aquela coreografia feita especialmente pelo Bruno, até a minha princesa deu- alguns "bate cus" ao som desta música que ainda não se mantinha bem de pé...

E Sesimbra também é das minhas praias de eleição na Costa portuguesa, mas afastei-me um bocado da zona, e agora é muito raro lá ir, até porque tenho uma também boa, embora com água gélida, compenso com a Lagoa, aqui muito perto.

Mas soube-me bem aqueles dias passados entre amigos, ainda por cima bastava calçar o chinelos, enrolar a toalha, podiamos dar os mergulhos e vir rua acima a pingar, sem preocupações com vestuário e secagem...

Esta sindrome tem de facto muitas variantes, o que torna ainda mais difícil a compreensão, por quem não lida com eles diariamente, são mesmo desconcertantes, e se por lado até manifesta, no caso do meu filho alguma comunicação programada, pode confundir e baralhar as pessoas, não de forma propositada.
A mim parece-me da minha experiência que a indecisão e a dificuldade em tomar decisões, porque têm medo de falhar e não ser aprovado, pelos outros, o impede de ser mais autónomo.
Bjocas

Mina disse...

Ainda na sequência do coment anterior, e para neste caso específico, vou contar-vos mais um episódio que se passou hoje.

Tento sempre que possível, solta-lo e num espaço reconhecido por ele dar-lhe alguma liberdade de movimentos, uma vez que desde que está em "CAO", acaba por estar também mais condicionado.

Hoje enquanto a mãe ficava no dentista, ele foi dar uma volta de "Toma"*, para o qual tinha um cartão pré-pago, mas que não têm sido utilizado, (á oito meses) e não sabiamos que ao não lhe dar uso ficava dado como perdido ou roubado, estando portanto invalidado, assim que o Bruno entra no transporte, é informado que não pode viajar que o título não é válido, para se dirigir á rodoviária para tratar do assunto, e lá vai ele resolver o assunto, nem sei bem como xd, até esta parte a mãe não sabia de nada, como se dirigiu ás pessoas como explicou, já no gabinete do utente, liga-me a dizer onde está e explica-me a situação, a mãe já andava a tratar de outros assuntos, volta atrás e vai ter com ele ao local, olho para as bilheteiras, não o vejo, ligo-lhe eu ,a perguntar afinal onde é que estás?! Estava dentro de uma sala á espera que resolvessem o problema xd,
Diz estou aqui mesmo atrás de ti, a mãe cegueta não o imaginava, numa sala a espera calmamente da resolução...

Como eu, tinha tirado a senha nos correios, que fica a "dois passos", e ele estava sozinho na sala, vou ver em que nº. está, quando volto já estão a dar-lhe a explicação das soluções...
Ah! a mãe na primeira passagem deixou-lhe 10 euros.

Então e agora vão perceber até que ponto, as pessoas podem ficar baralhadas e o acentuado da síndrome.
Se ele não usava o cartão há oito meses das doze viagens, iniciais do cartão ainda tinha 7, a solução como o cartâo, já tinha sido cancelado era fazer um novo com mais 12 inicias e colocariam as 7 daria um total de 19, efectuando o pagamento de 5 euros, mas como ele tinha 10 euros, estava em dúvida senão carregava os 10 euros e ficava com 36, esta, esta das 36 nem eu percebi xd, que matemáticamente seriam 31, mas como esta hipótese para mim fora de questão nem indaguei seria algum bonús xd.

Até porque eu não tinha dúvidas que carregaria o menor valor, só para não perder as viagens acumuladas , mas ele já andava para ali numa baralhação, e depois desculpava-se que não pudia andar mais porque tinha CAO, e afinal senão podia andar para que queria mais viagens... Já estão suficientemente baralhados com este discurso, lá expliquei ás pessoas que o atenderam, esta forma particular de pensar...

Resumindo e concluíndo, logo na porta, ficou á espera do "Toma", para verificar, enquanto a mãe foi aos correios, e despachou-se primeiro que a mãe, chegou ao local combinado antes, lá teve que me ligar, o telemóvel sempre dá cá um jeitão!...

*-"Toma", transporte rodoviário, ou não estivessemos nós da terra do Zé Povinho.