Mãe e filho de mãos dadas trilhando os caminhos do autismo/asperger.
Numa partilha intimista e de coração aberto em sonhos e desalentos, numa vida vivida...
Ter um filho asperger não é o fim do mundo, mas o princípio de uma nova vida...
Valorizando os afectos...

domingo, 21 de junho de 2009

"No Cerebro do meu Aspie"

Do que eu constato, e na minha analise pessoal do caso especifico do meu filho,
a maioria das vezes ele capta a informação e absorve-a que nem uma esponja, aquela que lhe interessa e é um leque muito vasto, e fica-se nessas informações, analisa-as de uma forma contabilística ou estatística.
A parte cerebral dele é profundamente "movida", pelos climas,
e se lhe disserem alguma coisa que não consiga relacionar com o clima, é uma "chamada entrada por saída".
Ouve mas não escuta, até pode dizer-me que sim, e depois não o fazer.
Quando lhe pergunto "então fizeste aquilo que te pedi ?"cai em saco roto", parece que o pensamento está fixo nas suas imagens fixas.
Eu comparo muito o cérebro dele a um computador,cheio de dados não tratados .
Fico impressionada com tanto conhecimento, não sei como cabe lá tanta informação variada e dispersa.
Se lhe perguntarmos de quem é a musica tal, ele sabe, se perguntarmos quem ganhou o jogo de xadrez ou de snooker ou ténis, ou futebol e outros desportos ,ele sabe.
Onde fica o país X e o clima do respectivo, ele sabe, a Fossa das Marianas, ele sabe.
É uma autêntica enciclopédia ambulante...
Depois no básico e trivial diário, fica sempre aéreo, e muito disfuncional.Qualquer coisa serve para vestir , não à combinações de cores, as golas podem estar de qualquer maneira, assim como a roupa, ponta a abaixo ponta acima, é lhe completamente indiferente.
Os célebres atacadores, já os ata, mas se ficar assim tipo a tropeçar, não tem muito que ralar...
No uso dos talheres a faca continua a estorvar, podia dispensar, só serve para atrapalhar...
As conversas podem ser "ricas" se o tema lhe agradar. Ou "pobres apenas com uns simples sim ou não, ou nada, se a conversa não lhe interessar. Ou antes senão a conseguir interpretar, e basta uma simples palavra da qual ele desconheça o significado, para o fazer bloquear...
Agora quem não lide com um adulto assim o que irá achar!?...
Dá mesmo para baralhar!...

15 comentários:

Mrs_Noris disse...

Mina,
Infelizmente, ainda não há terapia mais eficaz do que a química e só os químicos poderão (eventualmente) alterar essa genuinidade do seu Bruno...
Se um dia ele entrar para a vida activa, possivelmente irá necessitar tomar algo para ajudar a se organizar e a gerir a informação. Começo a ficar descrente em relação a terapias alternativas.
Beijos.

Anónimo disse...

"Agora quem não lide com um adulto assim o que irá achar!?...
Dá mesmo para baralhar!..."

Honestamente, se o seu filho fosse só o que a Mina descreve nesse post, parecer-me-ia uma pessoa perfeitamente normal dentro de um certo estilo (provavelmente cerca de 5% da população, se não mais, não andará longe dessa descrição - e quando à parte do qualquer "coisa serve para vestir" e "não combinar cores", é capaz de andar nos 50%).

Note que não estou a dizer que o seu filho seja "perfeitamente normal", estou apenas a dizer que, lendo só este post, era a impressão que ficava.

Anónimo disse...

Mais exactamente -

Eu também:

- só participo em conversas cujo assunto me interesse

- só quase incapaz de me motivar para fazer algo que não me interesse

- tenho uma cultura geral elevada

- tenho a mais profunda indiferença por normas sociais ilógicas (definição de "norma social ilógica" - aquelas "normas sociais" que só são "normas sociais" porque são "normas sociais")

E, sinceramente, não me considero como tendo nenhuma patologia.

A Mina poderá dizer que a diferença é que o seu filho não é pessoalmente e profissionalmente autónomo; mas, se há milhares ou milhões de pessoas autónomas com essas características, quer dizer que, provavelmente, a raiz do problema não está aí.

Mina disse...

Noris
Não sei até que ponto os químicos nestes casos ajudariam a estabilizar e organizar as ideias.
Embora eu acho que fossem úteis, no sentido de minimizar os efeitos da ansiedade e dos estereotipos provocados pela ansiedade do imprevisto.
Mas para mim a melhor terapia, será sempre a terapia ocupacional o mantê-lo ocupado, já agora podendo se aproveitar as suas capacidades, não permtindo muitas das suas fugas a "Marte"...
Bjocas

Mina disse...

Anónimo/a
Concordo consigo, há primeira vista o meu filho é um adulto que até aparenta ser capaz , e até é, nos seus interessses, desde que não haja nenhuma contrariedade,que aí ele não resolve e fica em bloqueado.
Tem capacidades intelectuais na média ou acima da média, mas por muito que eu queira e ache que ele é um cidadão "normal", esbarrará sempre na sua síndrome, e haverá sempre esta parte da autonomia, e da sociabilização e outras coisas simples e básicas que ele não é capaz de executar.
E existe uma grande dictomia entre o que ele sabe e o que é capaz de aplicar, no dia-a-dia, é que não basta saber o (pai até costuma dizer:ele tem lá tudo) quando se refere aos conhecimentos do filho.
Agora imagine, que está perante uma pessoa que tem uma boa cultura geral, mas ao mesmo tempo é capaz de estar a pôr a mão no prato da comida, para que nem fique um bago de arroz, isto é só um pequeno exemplo, já não falando em outras regras sociais...
O problema reside mesmo no fosso entre o conhecimento e aplicação do mesmo, em espaço e tempo apropriado.
Obrigado, pela sua participação
Um abraço

Anónimo disse...

Tenho seguido o seu blog e acho o Bruno fantástico...... Eu tb tenho 1 projecto de Bruno, sim, o meu tem 5 anos, é ainda 1 projecto. E muito sinceramente, cada vez mais acho, que os pais, terapeutas, familia destes miudos fantásticos é que nos preocupamos muito com as regras sociais. Os nossos filhos conhecem-nas e aplica-las-iam se nós não fossemos tão "chatos" que nem os deixamos pensar, antes de eles fazerem já estamos a lembrar "não se come com a mão", "não se faz assim", "deves fazer assim", "é assim". CHATOS!!!!! É o que somos. Podemos e devemos corrigir, mas primeiro temos que os deixar experimentar.

bjos grandes á Mina e ao Bruno
AAp

Mina disse...

AAp
Seja bem vinda à nossa casinha .
Os nossos "projectos" crescem rápido e tornam-se homens.
E lamento, e espero não desanima-la, mas ter-mos de continuar chatos a vida toda.
Porque teoricamente os nossos filhos sabem e conhecem todas a regras, que aliás, até as levam demasiado à séria.
Só que aquelas assim, muito básicas eles acabam por não aplicar, e lá estamos nós a insistir é o nosso papel, o meu esquece-se muitas vez do objecto talher, e vai com os "garfos dedos", por exemplo à salada tenho de o chamar há atenção, é mesmo por distracção é os momentos em "Marte" e agora veja os anos que já levo de chata xD
Enquanto a partida pode lavar as mãos uma série de vezes antes de vir comer, mas depois da refeição esquecesse, já sou eu a lembrar (eu até tenho a minha teoria, para esta prática xD).
Mas são uns doces estes nossos filhos, de uma pureza e ingenuidade extremas, o que os torna seres fantásticos.
Boa sorte com o seu menino, acredito que as coisas hoje em dia estão muito mais facilitadas, pelo conhecimento, embora os nossos meninos/jovens/adultos serão um enigma isso torna-os apaixonantes, eu ainda consigo ficar espantada com atitudes do meu "Grandão" loool
Obrigada e volte sempre
Bjos também para si e filhote

mariamartin disse...

Cara Mina,
Não pude deixar de vir aqui concordar com o Anónimo-Aap quando diz que pela sua descrição o Bruno seria igual a muitas pessoas que conhecemos.
Pois é...acontece-me tb ouvir isso dos meus amigos quando às vezes descrevo os comportamentos do meu.
Mas...nós é que os vivemos no contexto e,no contexto, esses comportamentos não são nada normais!E se os corrigimos é para que eles sofram menos em sociedade.
O meu filho é até visto como muito bem educado socialmente...mas constantemente esquece-se de se lavar,de se vestir,de fazer os trabalhos, de pôr o despertador, de arrumar a mochila, de lanchar se estiver "entretido", de dar 1 beijo à mãe e ao pai quando chegam a casa...!
No caso dos nossos filhos "nem tudo o que parece é" :-)!
Beijokas
mariamartin

Mina disse...

Maria martin
A sua última frase define-os bem, "nem tudo o que parece é".
No caso do meu é socialmente correcto, até porque pouco liga ao mundo que o rodeia, só houver pessoas que "puxem" por ele no sentido de encetar conversa, de resto "anda a leste do paraíso", remoendo nos seus pensamentos climáticos...
Isso de cumprimentos, já nem ligo xD, e mesmo quando é para cumprimentar outras pessoas tenho de lhe dizer também,
Então!... não cumprimentas ,e assim lá vai o beijinho ou aperto de mão por obrigação xD, que no fundo é o que todos fazemos loool, só que a nós não precisam de nos lembrar, destas etiquetas...
Bjocas

Anónimo disse...

"Não pude deixar de vir aqui concordar com o Anónimo-Aap"

É só para esclarecer que o anónimo de 22 de Junho não é o Aap.

Mina disse...

Anónimo/a
Eu percebi, que o anónimo AAp, não era o mesma pessoa, que o primeiro anónimo que aqui comentou, embora seja dificíl para quem lê identificar poderia ser o mesmo que quissesse na segunda oportunidade deixar uma referência, sem no entanto se identificar.
E terá sido isso que induziu a comentadora Maria martin em erro, mas certamente que foi consigo, que ela concordou, tal como eu, que lidamos diariamente com esta síndrome de Asperger, e os nossos filhos tem mesmo essa faculdade " de parecer ser" e são "normais" nas suas particularidades, conforme o grau de afectação, são mais ou menos capazes.
Mais uma vez obrigado pela participação, volte sempre...
Um abraço

Anónimo disse...

Olá Mina, AAP outra vez.....

Não me desanima de forma nenhuma, eu tenho consciência de que o caminho a percorrer é cheio de "altos" e "baixos". E vou aprendendo convosco e com outros a lidar com algumas situações.

Eu confesso que ás vezes "baixo a guarda" com o meu pimpolho, para perceber o que é que ele apreendeu. Ele começa por ficar á "deriva" mas com a minha "supervisão" (sem me expressar verbalmente) ele lá vai avançando e faz bem, muito bem mesmo (agora.... vem a baba da mamã).
Sem dúvida que hoje nós temos outras "ferramentas", só precisamos conhecer bem os nossos filhos e saber quais delas utilizar, o que ás vezes não é fácil.

Admiro-vos pela partilha.... E por não deixarem que pessoas como eu sigam este caminho sózinhas.

Acredito neles e acredito em NÓS!

Bjos grandes á Mina e ao Bruno
AAP

mariamartin disse...

Caros comentadores,
Peço desculpa pela confusão e por isso:
Ao anónimo: era mesmo consigo que eu queria concordar :-)!
Ao Aap:bem vindo a este espaço da Mina e do Bruno e espero que as nossas conversas lhe sejam úteis;o meu aspie tem 11 anos, é um caso ligeiro e desde que foi diagnosticado (há 2 anos) tem evoluído bem, penso que muito porque nós vamos aprendendo a lidar com ele.
Beijos a todos!
mariamartin

Mina disse...

AAp
Um dia de cada vez é o lema, e vamos aprendendo com eles a melhor forma de lidar, e evidentemente todos temos os nossos altos e baixos, mas as subidas é que importa e eles são seres surpreendentes, e secalhar quem não tenha sido tocado pela diferença pensara que é demagogia, o que nós mães de filhos especias sentimos, este amor imenso...
Eu fico derretida quando o meu grandão diz que me ama xD, um filho dito "normal" nunca o diria, eu também sempre amei a minha mãe e nunca tive esta genuiedade de lho transmitir.
Torna-se um a relação umbilical...
E não se preocupe com "sindrome da chatice" xD, vamos ter de o ser com eles, e fundamentalmente com quem vierem a ter relacionamentos com eles ao longo da vida...
Nada de desanimar, atrás de dia, dia bem...
E no que eu poder contribuir com a minha experiência disponham, é no sentido de poder ajudar que aqui escrevo, que no meu tempo senti essa falta, no percurso solitário, que fizemos...
Beijocas para os dois,

Mina disse...

Maria martin
Penso que o anónimo/a, terá ficado esclarecido/a do equicovo.
Tudo de bom para o seu filhote, que está no final de mais um ano lectivo, espero que tenha atingido os objectivos
A nossas beijocas partilhadas xD